O Último (Microconto)



Inspirado na música Adoço de Edgar Domingos.

"O Último"


Existem coisas que confundem profundamente um homem. Normalmente trata-se de uma mulher, infelizmente comigo não era exceção.

Estava louco por essa mulher.

Sierra fazia em mim coisas que nenhuma mulher teve a capacidade de fazer e, não era necessário sequer tocá-la, tudo se resumia a maneira que meu corpo reagia por dividirmos a mesma divisão, sentia-a antes mesmo de vê-la.

Por isso ali estava, com um cãozinho adestrado obedecendo as ordens de sua dona.

Meus planos para aquela noite era beber ao ponto de não poder vivenciar os acontecimentos do dia de amanhã. Acordar e ouvir que o pior dia da minha já tinha acontecido. Mas ali estava no meio do corredor de um hotel parado na porta com as mãos suadas de ansiedade tentando compreender por que razão ela chamava por mim.

            Quando a porta se abriu senti o oxigénio evacuar do espaço, aquilo era surreal, porém algo em mim acreditava que seria diferente dessa vez, não era o que verdadeiramente queria, mas seria mais do que ela costumava oferecer.

- Entra! – sua voz era quase inaudível, mostrando insegurança nas suas palavras.

Meus olhos procuram logo pela cama naquele grande quarto, por alguma razão maior que eu, talvez pelo desejo antigo de poder vivenciar tal momento com ela. Mas encontrar seu lindo e longo vestido branco enraiveceu-me.

            Todas as questões que tinha na minha cabeça evaporaram ao olhar para ela.

            Seu corpo esbelto exposto aos meus olhos, exibindo a sua feminidade, suas curvas, sem um mero tecido para impedir-me de explora-la. Tinha sua mão esquerda estendida na minha direção e um pequeno sorriso nos seus lábios sendo obvio o seu convite.

            E meu corpo não poderia negar tocar o seu.

            Tudo que sentia, tudo que via, era um intenso calor. Meus dedos queimavam, meus lábios ardiam, eu por inteiro parecia estar em fogo. Sentir seu coração batendo tão descontroladamente quanto o meu, era como chegar no topo do monte Evereste.

            Segurei seu rosto com as minhas mãos, permitindo-me tirar uma fotografia mental daquele momento, de como os seus olhos cor de âmbar ardiam de ânsia por sentir meus lábios no seus, mas não foi aquilo que vi.

            Eram mais de 10 anos apaixonado por essa mulher, mais de 10 anos conhecendo-a melhor que ninguém e sabia muito bem que os seus olhos transmitiam pavor e algo estalou dentro de mim, não a teria assim.

            - Veste-te! – ordenei sem conseguir esconder a dor que sentia. Afastando-me dela, daquela situação.

            - Estás a negar-me? – deu um passo para mim e respondi virando-me. – Marco, que merda é essa? – disse colocando-se a minha frente e elevando meu rosto de modo a encara-la.

            - Tu não vais usar-me para responder as tuas dúvidas – avisei-a.

            - A ideia aqui é nos usarmos – justificou – Eu dou-te o que sempre quiseste e tu respondes-me se casar-me amanhã é a melhor decisão.

            - Aí é que tá, eu não quero simplesmente tocar-te! Eu quero amar-te!

Não queria ser mais um homem.

Seria o homem ou continuava sendo ninguém.

 

5 comentários:

  1. Gostei muito do microconto!
    Esse é o texto para o desafio do Fábrica de Histórias?

    Beijos!

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    Respostas
    1. Obrigada Estela :D
      Sim, mas agora estou na dúvida. hahaha!
      Obrigada por continuar aqui

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  2. Que bonito!
    É o texto para o desafio do Fábrica de Histórias?
    Se for posso dizer que o pódio está garantido :D

    Beijos :)

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  3. Olá Sílvia :)
    Escrevi sim pensando no desafio, mas agora não sei se vou seguir com a ideia.
    Sério? Fico feliz por isso.
    Obrigada por continuar aqui.

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  4. Olá, Erii!
    Muito bom o microconto!
    Não conhecia a música, foi uma bonita descoberta :)

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Obrigada por Comentar
XOXO.

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