Ilka
Com apenas um pedaço de pano de seda
cobrindo a minha área mais intima, deitada sobre aquele divã sobre o olhar
atento de um homem que expressava numa tela branca a versão que tinha sobre
mim, sentia imensas coisas, desde o desconforto à excitação de ser musa de alguém.
Ainda mais fazendo um nu artístico, algo que nunca pensei ter coragem de algum
dia fazer, mais a coragem para fazer alguma coisa vem sempre de um incentivo. A
arte era o meu incentivo.
- O que esta em tua mente? – Suas mãos
pararam de movimentar-se e seus olhos agora estavam em mim.
- Nada! – Respondi elevando as minhas
mãos até meus seios nus.
- Queres dizer tudo? – Cruzou os
braços sem pousar seu pincel que gotejava tinta preta.
- Porquê eu? – Sentei-me no divã
pegando o roupão que estava no chão.
- Não entendo Ilka – murmurou pousando
os utensílios que usava para a pintura.
- Porque escolheste-me Professor Edun?
– Desenhei um círculo com os meus dedos.
- Não escolhi-te – respondeu virando-se
como instrui com gestos, dando-me privacidade para cobrir-me – Tu escolheste-me!
- Não para ser tua musa.
- Mas para que fosse teu orientador –
abanava sua cabeça de um lado ao outro, apoiando o seu peso nas pontas dos
dedos cada vez que sua cabeça ia para o lado direito.
- Ser sua musa não faz parte do
programa. – Amarrando as fitas do roupão caminhei em sua direção – Porquê eu?-
questionei já diante a si, com os nossos olhos castanhos fixos um no outro.
- Porque despertas algo em mim.
Eu
não conseguia falar. Era incapaz de puder dizer, de puder ordena-lo que
parasse. Meu corpo fazia o oposto de que meu cérebro ordenava. Visualizava-me a
tira-lo de cima de mim e sair correndo daquele lugar sem olhar para trás,
outros momentos visualizava-me a partir a garrafa, que ele tinha abandonado a
algures daquele compartimento, em sua cabeça, vezes e vezes sem conta, e
continuar ali apreciando ele perder todo o sangue que tinha em seu corpo. Mas do
mesmo jeito que de meus lábios não saia som algum, meus músculos eram incapazes
de fazer qualquer movimento. Apenas fiquei ali, olhando para os seus olhos,
vendo-o sorrir, sentindo suas mãos acariciarem meu rosto, seus dedos a puxarem
meus cabelos de vez enquanto, sentindo-o satisfazer-se comigo, preenchendo
minha alma num tom preto da tinta que ele usava sempre que pintava-me.
O
som da gargalhada que ecoou por aquele quarto deixava-me ainda mais dormente,
ainda mais morta por dentro. O som continha imensa satisfação, imenso prazer, continha
sem dúvidas o sentimento de realização. Insistia em ter suas mãos em mim, como
se fôssemos amantes, como se eu estivesse feliz do jeito que ele estava, seus
dedos faziam círculos no meu abdômen, círculos como os que fazia quando pedia
silenciosamente que ele me desse privacidade para vestir-me.
Apesar
dos meus olhos estarem presos no teto, podia sentir o sorriso que ele
carregava, a felicidade que sua aura tinha. Queria puder sentir alguma coisa, queria
puder sair dali, caminhar pelas ruas escuras iluminadas, deitar na minha cama e
não sair dela nunca mais, queria puder fazer alguma coisa, mas não era.
Não
sei por quanto tempo aquilo durou, nem muito menos por quanto tempo fiquei
deitada naquele chão com ele do meu lado, ainda se via a lua, mas acreditava
que tinham-se passado horas e horas. O som suave e calmo de seu ressonar era a única
coisa que podia ouvir naquele instante dando-me forças para levantar, para ir
embora.
A
falta de vontade de sair daquele lugar estava expressa na velocidade em que
vestia-me, parecia que no instante que sai do chão meu corpo foi domado por uma
vontade imensa de fazer algo que desconhecia, de terminar aquela noite, de
criar uma borracha, de virar uma página, de fazer algo tão horrível do que
quanto aquilo que tinha sido feito em mim. Algo pior que matar-me.
As
luzes provenientes da rua iluminavam suavemente a cozinha, possibilitando-me a
ver o máximo que podia. Encontrar o que procurava foi muito simples, assim como
na cozinha de meu dormitório, havia um conjunto de facas enfiadas sobre um
suporte de madeira, removi a que tinha o maior cabo preto. Parecia ainda mais
brilhante do que as facas que tinha visto antes, parecia mais atraente, parecia
exatamente a que procurava.
Assim
como a faca, uma das garrafas exibidas no bar que se encontrava na sala, brilhava,
atraindo-me até ela. Peguei nela, abri-a, e deixei seu líquido escorrer pela
minha garganta sem me importar com o ardor que provocava.
Arrastei-me
até a sala de pinturas e ele ainda ali estava, nu, deitado sobre o roupão que a
horas usava, sua imagem refletida em todos os espelhos que nos rodavam. A perfeita
união de cores, o branco vindo do roupão e o preto da ausência de luz, queria
uma cor ardente, quente, uma cor que excitar-me-ia, que colocaria um sorriso em
meus lábios.
Sentei-me
sobre seu corpo, por cima de seu pênis que tinha penetrado em mim, provocando
um corrimento em mim, que seria visível no chão ao amanhecer, uma marca. Numa das
minhas mãos ainda tinha a garrafa e a outra a faca. Não sabia qual dos dois objetos
seria o mais perfeito, talvez o mais silencioso, o mais simples e eficaz.
Quando
seus olhos abriram-se e um sorriso brotou em meus lábios minha mente sabia que
aquele era o momento certo, o instante perfeito para deixar sua alma e
exatamente como ele deixou a minha, morta.
Penetrei,
penetrei, uma, duas, três, quatro, cinco, seis, e mais, e mais, com a
velocidade de uma máquina espetava no seu peito a faca que tinha em minhas mãos,
pegando no cabo com as minhas duas mãos, eu penetrava a faca brilhante no seu
peito e gritava, gritava, tão alto que provavelmente alguém acordaria, alguém iria
despertar com o som da minha dor, da minha raiva, com a minha tentativa de voltar
a ser a jovem mulher que era.
-
Ilka! Ilka! – Senti a faca ser removida de minha mão, meu corpo a ser puxado
para algum canto.
Meu
corpo foi apertado contra algo quente quase sufocando-me, porém sentia-me confortável,
confortável que deixei tudo sair, deixei tudo que estava preso em meu peito
sair.
As lágrimas corriam pelos meus olhos com a intensidade do barulho que saia de meus
lábios. Queria poder tirar tudo que sentia de mim, tirar a sujidade de meu
corpo, a dor, trazer de volta o que perdi.
“
Vai ficar tudo bem!” Repetidamente era murmurado no meu ouvido enquanto era
aconchegada. Uma promessa que tinha a certeza que não seria cumprida, que até
mesmo quem a fazia sabia que seria uma tarefa quase impossível de realizar.
Contudo
me permitia acreditar, me permitia aceitar que talvez isso se tornaria verdade
algum dia, porque sabia de alguma forma que Louis iria ao menos tentar.
Nota da Autora
Olá!
Era para por ontem, mas não consegui, lamento.
Era para por ontem, mas não consegui, lamento.
Irei tentar por o próximo ainda hoje. Não sei se conseguirei
porque tenho que entregar o pc a minha mãe, porém darei o meu máximo.
Espero que estejam a gostar.
Beijos.
E Desculpas, espero que esse capítulo ajude a
desculparem-me. Podiam dizer-me como acham que vai acabar?
O_O
ResponderEliminarSerá que eu interpretei bem o final dessa parte? Não consigo entender bem... não acho que ela vá ficar com o professor mas também não acho que ela vá ficar com o Louis.
ResponderEliminarEspero pela continuação.
Bjs :)
Ela quis se matar? Acho que não entendi bem isso!
ResponderEliminarPosta logo.
Beijos :)
Eu não sei o que comentar, sinceramente. Não pensava que essa parte acabasse assim. Acho que é um mistério para mim ainda saber quem vai ficar com a Ilka.
ResponderEliminarPosta logo.
Beijos.
Fiquei confusa nessa parte. O que aconteceu realmente com essa faca nas mãos da Ilka?
ResponderEliminarBeijos.